MEU CAMPO – Milonga

Pra ser mais um viramundo

O meu coração herdeiro,

Leva os rastros do potreiro

E os ventos das invernadas,

A sombra lá da canhada,

O remanso do açude 

E um timbre de cantor rude

Chamando a tropa cansada.

 

Nas manhãs frias de junho

A várzea branqueia lindo

E a meia lua sorrindo

Comunga a geada tordilha,

Alguma alma andarilha

Veste o gelo do minuano

Sopra o pala do paisano,

Que vem apertando a encilha.

 

O campo habita em mim,

Desde que me conheço,

Faz parte do adereço 

Deste meu jeito ancestral,

Meu campo é mescla rural,

De terra, bicho e semente

E dos traços da minha gente

Resistente e natural.

 

Meu campo é um buenas tardes

Onde amigo tem achego,

É um banquito de pelego

Na espera do mate e prosa.

Meu campo é rima saudosa

De algum causo de mangueira,

Resto de pátria campeira

Resistente e silenciosa.

 

Sei da picada de mato,

Cada passo de aguada,

Aonde enxerga a estrada,

Que vem levantando poeira,

Sei onde mira a "boeira",

Na noite enluarada,

Onde o longe é quase nada

E a tristeza é passageira.

 

É aqui neste meu campo

Onde os loros andam gastos,

Onde a cantiga dos bastos 

Preserva amor de família,

Aqui onde hay tropilha,

Crioula, pra campereada,

Seja pra lida pesada

 

Ou pra festa Farroupilha.


 

Por favor, aguarde enquanto o processo é concluído...