Poncho Cinzento
Letra:
Esse meu poncho de lã,
cor de pluma de “torcaza”,
com algum puído de traça
e pelos de um zaino negro.
Entre o basto e “os pelego"
ele também vai pro lombo,
se me apeio, vai no ombro,
anda comigo onde chego.
Veio pra mim, por herança,
-Mesma gente em outro tempo-
Mesmo céu e mesmo vento,
já conhecidos de outrora.
Esvoaça a campo fora,
meu tempo parece “outro”,
quando se amansava potro
de socado, relho e espora.
Esse poncho tem as listras
de velos bem escolhidos,
pra requintar no alarido
de um bailecito de estância.
E carrega em sua fragrância,
o odor da noite em negrume,
que impregnou seu perfume
pra me abrandar a distância.
Pano que andou bailando
junto das moças bonitas,
lã que beijou a chita
em um pecado escondido.
Trouxe da flor de um vestido,
o cheiro e o sentimento...
Deixando o poncho cinzento
com feitiços no tecido.