Digital de Terra

 

Letra:

…Tropa é quadro na parede,

carreta é moldura antiga…

 

As botas perdem estribos

mas ‘inda’ firmam demoras,

e o couro também se lembra

que o sangue tinge as esporas…

 

Cada retalho terrunho

é marca viva e se encerra,

sempre que volta - é campeiro -

com digitais pela terra…

 

E o campo fica nos dedos

por testamento assinado:

guarda um poema encardido

no berro grosso do gado.

 

Uma saudade no rosto

- em rastros de permanência -

é o barro da identidade

que reconhece a Querência…

 

‘Volta-boi!’ acorda em verso,

rangido vira cantiga…

Tropa é quadro na parede,

carreta é moldura antiga!

 

Foi de lá, de um outro tempo,

foi daqui e se costeia:

herança que segue altiva 

pra desatar as maneias.

 

‘Volta-boi! Volta-boi!’

carretas viram poema…

Tropa é quadro na parede

e ainda berra suas penas.

 

Os que ficam têm motivo,

são mais do que tenho escrito.

Uns morrem no esquecimento,

outros, perto do infinito. 

 

Dos bons cavalos de viagem 

- andantes por vida inteira  -

pingam gotas das estradas

intermináveis de poeira…

 

Esses semblantes de campo

vão morrer todos iguais,

pois é debaixo da terra

que se apagam as digitais…

 

‘Volta-boi!’ vira cantiga,

carretas viram poema…

Tropa é quadro na parede

e ainda berra suas penas.

Por favor, aguarde enquanto o processo é concluído...