Cotidiano

Letra:

Rodeio parado, pingo assoleado, num sol veraneiro

São vacas de cria, solteira e vazias, e um touro fumaça.

O peão olha longe, com calma de monge, fechando o palheiro

Semblante altaneiro de um homem campeiro, estampa da raça.

 

O cusco ovelheiro descansa na sombra de um cocho de sal

Ali perto as cigarras abrindo o peito, na sombra do mato.

Olhares atentos de quem sabe a volta da cura e do banho

Mirando o rebanho buscando bicheira e algum carrapato.

 

A ponta da bota no estrivo embarrado, são restos de pampa

Que mesclam o povo, com pingo, cachorro e um naco de campo

Tá feito o serviço grita o mais novo, alça a perna e volteia

Tocando ‘as oveia” que seguem ao rumo de um baio lunanco

 

São três de a cavalo, que cruzam a sanga no rumo das casas

O poente em brasa acolhe a noite que aos poucos se achega.

No galpão a borrega, guaxa e mansa, reclama o sustento

E no firmamento um risco de lua no céu se aprochega.

 

Então resta o mate, a prosa, o truco e um gole de canha

Pois aqui na campanha o simples é luxo, na vida do peão.

Ponteando um violão acolhero as palavras contando do dia

E da bruta porfia de quem toca a vida e a produção.

 

O galpão silencia, e a cambona vazia, descansa do amargo

Mas logo a rotina adentra nas portas batendo ‘os tição”

Se aviva o fogão, e um par de esporas acordam os galos

Na mangueira os cavalos, atentos na forma, à espera do peão

Por favor, aguarde enquanto o processo é concluído...